segunda-feira, 26 de novembro de 2007

TÂNIA e o GÊNIO da LÂMPADA



Agora vocês sabem de onde vêm os ovos de Páscoa...



Esta é mais uma história de Tânia Saginatta, uma mulher na casa dos trinta anos louca para arrumar um namorado। Seus belos olhos verde-água, porém, não compensavam o calombo no nariz, o cabelo preto que insistia em nunca ficar como ela gostaria, os modos abrutalhados, a leve espuminha que se formava no canto da boca durante uma conversa mais animada e os vários quilinhos acima do peso.



Nada contra as cheinhas; até porque existem gordinhas sexy e charmosas, mas Tânia passava longe desses atributos। Amigos meus me segredaram que, embora filha de um bilionário empresário do setor agropecuário – só para dar uma dupla rimada na frase – Tânia não compensava um golpe do baú. E falando em baú, certa segunda-feira um desses caiu-lhe sobre a cabeça.



Se era a primeira vez que Tânia se encontrava rodeada por tantos homens, ela não saberia dizer, já que, nocauteada, encontrava-se privada de desfrutar o raro momento।



Por um desses acasos bizarros, quando Tânia acordou no leito de um hospital com a cabeça enfaixada e dolorida, o baú a havia acompanhado। Sem saber como tinha ido parar naquele quarto, e achando ter recebido um presente, ela resolveu conferir o conteúdo do baú. Encontrou uma lâmpada antiga, na qual se lia: “Esfregue antes de usar”.



Tânia obedeceu à ordem। Após uma óbvia explosão de fumaça e um odor de peido no ar, Tânia percebeu-se diante de um homem com chapéu e roupas de marroquino, pele azul, barbinha em forma de vírgula e tão gordo quanto ela.



– Bom dia, minha ama! Sou o gênio da lâmpada e a senhora acaba de me libertar! Por isso, quero lhe conceder três desejos!
– Nossa, esse é o recado vivo menos original que eu já vi! – protestou Tânia, com sua sutileza de cachalote arpoado dando uma cabeçada num frágil navio baleeiro.
– Nadavê! Sou um gênio de verdade! Quer ver? Vou conceder um desejo bônus, além daqueles três.
– Então tá! – desafiou Tânia – Cura essa minha dor de cabeça!



O gênio estalou os dedos das duas mãos e a dor de Tânia passou। Ele falava a verdade.



Cadê o DiCaprio, pô? Tava aqui nessa água agora mesmo!


Então ela se vestiu rapidamente, agarrou-o pelo braço e fugiu do hospital।

– Meu primeiro pedido: – disse ela quando chegaram em casa – quero um trilhão de dólares! Quero ficar mais rica que o meu pai!
– Calma. Raciocine comigo: se na sua conta bancária aparecer essa quantia, sem que você tenha renda compatível nem como comprovar a procedência, vai passar o resto da vida se explicando. Quem iria acreditar num gênio da lâmpada?
– É verdade। Então o que você sugere?


Mais uma vez, o gênio estalou os dedos das duas mãos ao mesmo tempo। Uma pá surgiu flutuando no ar.


– Cave um buraco no seu quintal। Acabei de colocar uma jazida de petróleo que vai render um trilhão de dólares!

Tânia obedeceu e, de um buraco raso, saiu um jorro de líquido preto.

– Agora, me transforme numa mulher bonita! – ordenou ela।

– Seja realista। Como é que vai explicar que mudou de aparência de uma hora para outra? Que é a mesmo a dona da jazida de petróleo, filha de seus pais, amiga de seus amigos etc.?

Ela não demorou a admitir que, novamente, o gênio tinha razão।

– O que você sugere? – perguntou ela, sem notar que se repetia.
– Se seu problema é ficar atraente para o sexo oposto, nada mais fácil do que reduzir a concorrência. Posso matar todas as mulheres da face da Terra com uma epidemia que só atinja o sexo oposto. Quer ver?
– Não! Não! – berrou Tânia – Nada de mortes! Tenho uma idéia menos trágica: E se essa epidemia deixasse as mulheres em estado de coma?

Meses depois, muitos rapazes que afirmavam que não namorariam Tânia nem que fosse a última mulher do planeta agora pagavam com a língua। Ela não sabia o que fazer com tantos pedidos de casamento. Como jamais ocorrera em toda sua vida, Tânia podia escolher. E cada homem mais bonito que o outro!

Estava ela voltando de um encontro toda sorridente, quando deparou-se com o gênio da lâmpada largadão sobre o sofá da sala, com olhos preguiçosos assistindo ao noticiário da TV।

– OOOOOOOOOIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII! – disse ela, esbanjando felicidade.
– Oi. – respondeu ele – Já soube da novidade?
– Não.
– Dá uma olhada... – pediu o gênio, apontando para a televisão com o controle remoto।

Em edição extraordinária, o noticiário noturno anunciava o retorno de cientistas que haviam ficado meses dentro de uma estação orbital, para um experimento। Agora, retornavam com duzentas mulheres geneticamente aperfeiçoadas: loiras, morenas, ruivas, japonesas, negras etc. que tinham se tornado extremamente belas e gostosas.

– Mas como? E a sua epidemia? – protestou Tânia.
– Você pediu que a epidemia atingisse todas as mulheres da face da Terra! Essas daí estavam num laboratório em órbita do planeta!

Tânia ficou vermelha de ódio।

– Você me enganou! Seu... seu...
– Quer saber? Foi até bom! Já estava enchendo o saco ver você todos os meses na capa da Playboy!
– Vá plantar batata, seu traidor!
– Opa! Seu terceiro desejo é uma ordem!
– NÃÃÃÃÃOOOO!!!!

Outra explosão cheirando a peixe podre e o gênio desapareceu। Obedecendo ao desejo de Tânia, ele se tornou um grande produtor de batata, esmagando os concorrentes com preços baixíssimos e levando o pai dela, que era do mesmo ramo, à falência.

Mas não temam por Tânia। Sua jazida de petróleo dava para sustentar confortavelmente a família. Quanto às mulheres em coma... bem, o gênio apareceu para outro cara, e com a lábia que tinha, convenceu o sujeito a curá-las todas.


Eu cempre goçtei dos desenho do companheru Diçneys,

intao fiz quenem o Miquei e fiquei cum quatro dedo na mão...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O Vampiro ABORRESCENTE, parte II



(anteriormente em... “Quebrando todos os recordes”)

Manhã de sol... Dona Branca abriu as janelas e as cortinas do quarto de seu filho Alvinho, permitindo a entrada da luz em quantidades fartas। Ao lançar os olhos para a cama, encontrou uma camada de cinzas sobre os lençóis. Ajeitou o lenço florido na cabeça e resmungou:

– Que moleque...! Sai de casa sem me avisar e agora deu pra ficar fumando na cama!
Ignorava por completo que sua atitude destruíra involuntariamente o próprio filho, tornado um “neo-vampiro” desde a noite anterior।

Tal desconhecimento não se podia afirmar quanto a Fúlvia, a vampira que transformara o filho de dona Branca em um sorvedor de hemoglobinas। No exato momento em que o sol queimara Alvinho, ela sentira na pele a aniquilação do garoto e despertou de seu sono urrando de dor. Seus globos oculares viraram esferas vermelhas sem pupilas, todos os dentes e unhas tornaram-se pontiagudos, as maçãs do rosto projetaram-se e o cabelo ficou de um jeito que nem chapinha japonesa ia consertar.

– Isso não vai ficar assim! – rosnou – Ninguém faz isso com uma cria minha! Sei onde ele está e vou me vingar!

Abriu a porta de casa, botou o pé esquerdo para fora e o primeiro raio de sol incinerou-lhe a ponta do sapato। Puxou a perna para dentro rapidinho e bateu as costas na porta:

– Pra que a pressa? Por que se precipitar? De noite eu resolvo isso.

Chegou a noite. Um morcego sobrevoava a rua onde morava Alvinho, tendo por únicas testemunhas a vizinha da frente, uma jovem gorducha emo chamada Ema e seu cãozinho pinscher, deitado na cama. Ema seguiu o morcego com um binóculo e acompanhou-o cruzar a janela escancarada do quarto de Alvinho. Notou quando o animal voador da família dos quirópteros pousou na janela. Uma explosão o cercou. A fumaça ainda não se dissipara e o bicho, então, revelou-se, na verdade, a vampira Fúlvia (e você tinha alguma dúvida?).

A gorducha emo adolescente deu um pulo para trás e caiu sentada na cama। O pinscher deu seu último ganido.

Ema, a emo: ô coisinha lindja!


Aquilo não dizia respeito a Fúlvia, preocupada em buscar, no quarto, pistas sobre seu namorado। No andar de baixo, a campainha do telefone tocou e dona Branca, a mãe assassina involuntária, atendeu:

– Não, ele não apareceu ainda। Já liguei prum monte de gente e ninguém sabe de nada. Esses filhos só dão trabalho! Descobri que o Alvinho fuma, pode? Tive de limpar a cama, cheia de cinzas!

A vampira não precisou de muitos neurônios para deduzir que, depois de reduzir o filho a cinzas, Branca passou o aspirador de pó sobre a cama। Logo, ele só poderia estar num lugar.

– Tá... – continuava Branca, ainda ao telefone – Preciso desligar e botar o lixo pra fora antes que cheguem os lixeiros।

Fúlvia cruzou a janela já como morceguinha e voou até os sacos na entrada dos fundos da casa। Apanhou-os com as patinhas e saiu voando.

“Legal!”, pensou। “Se todas as pessoas do mundo fossem como essa mãe tagarela, eu nem precisaria usar meus poderes hipnóticos para descobrir as coisas!”

– Nossa, o caminhão passou mais cedo hoje! – surpreendeu-se a mãe de Alvinho – Eu nem terminei de trazer todos os sacos...

De seu quarto, Ema, toda apavorada, testemunhara o que Fúlvia fizera.

No aconchego de seu lar, a vampira despejara o lixo sobre uma mesa। Na cozinha, jogava no liquidificador um líquido violeta. Logo depois, rasgava o pulso com as unhas, deixando um pouco de sangue escorrer. Bateu os líquidos por instantes e, desligado o aparelho, jogou o preparado sobre o lixo espalhado. Um estalo, fumaças, e Alvinho estava de volta. Sorriu para a namorada, sem perceber a cara de desaprovação dela. Virou a cabeça na direção em que ela olhava e entendeu. Havia sido reconstituído apenas até a cintura.

– FÚLVIA! – bradou, em pânico – ONDE ESTÁ O RESTO DE MIM?

Ela percebeu a citação não-intencional feita pelo namorado a um filme de Ronald Reagan, “Em cada Coração um Pecado” (Kings Row, no original)। Preferiu, porém, não dizer nada. Não estava muito a fim de esbanjar cultura e limitou-se a tranqüilizar Alvinho:

– Hããããã... sei lá! Sua mãe te destruiu sem querer, mas eu estou te recompondo। Para isso, você vai precisar de mais hemoglobinas. Ainda bem que eu achei algumas pessoas que se prontificaram a ajudar, doando o sangue delas por uma boa causa.

Num canto da sala, três marmanjos amarrados e amordaçados choravam de medo.

A vigília de Ema, a emo, gerou recompensas। Às dez da noite, a balofa avistou alguma coisa chegando perto da casa de Alvinho. Olhando pela janela, arreganhou os olhos de pavor.

Dona Clara assistia a novela quando a campainha tocou। Levantou-se do sofá, olhou pela janela da sala e abriu a porta rapidamente, para receber seu filho com um carinhoso puxão de orelhas.


– Onde cê tava, moleque, que me deixou morrendo de preocupação? É assim que eu te criei, sai de casa e não dá satisfação de onde vai?


– Aiai, mãe, aiai!
– Calma, dona Branca, eu posso explicar!


Menos de meia hora mais tarde, Fúlvia e Alvinho achavam-se sentados no sofá, dona Branca numa poltrona e Ema, que correra para tentar escutar a conversa, escondida perto da já mencionada janela da sala।


– Alvinho, meu filho... – principiou a mãe – Desde que você nasceu eu esperava um dia você me dizer que queria ser artista plástico, roqueiro, costureiro, skatista, escolhesse alguma profissão que não desse dinheiro... até mesmo virasse gay... mas... vampiro?


Do lado de fora, Ema sorriu। Em seu cérebro limitado, a idéia de querer ser uma vampira começava a fermentar.


– E...? – perguntou Alvinho.
– Eu acho assim, se é uma coisa que vai te deixar feliz, então, por mim, está ótimo! Agora, vê se pára de fumar, tá? Esse vício é horrível!
– Fumar?
– Depois eu explico – cochichou a vampira।


segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Ventre Louco

Primeiro dia de aula no colégio novo. Bem no fundão da sala, um rapaz loiro de catorze anos empenha-se ao máximo para aparecer o mínimo, embora saiba que seu anonimato durará até que a professora anuncie seu nome na lista de chamada:

– Arno Kuh Zitto!

A classe vem abaixo, em gargalhadas tão altas que impedem a professora de escutar o “Presente!” proferido por Arno, sem impedi-la de dar uma bronca:

– Que fique bem claro que, nesta sala de aula, eu não irei tolerar nenhum tipo de indisciplina!

Durou pouco o sossego de Arno. No recreio, um valentão veio provocá-lo:

– E aí, Nuku? Muito ar entrando e saindo?
– Qual o seu nome? – respondeu Arno com uma pergunta, a calma de quem já passara por aquela situação e sabia exatamente como se defender.
– Num interessa, viado! – rebateu o grosseiro. E os presentes escutaram uma bufa escandalosa trombeteando dele.
– Então vou te chamar de Hélio. O primeiro dos gases nobres da tabela periódica! – disse Arno, em meio a nova saraivada de risos escandalosos, e se foi. Sabia que tinha deixado de ser o alvo das piadas em favor do valentão.

Aos poucos as pessoas percebiam que, estranhamente, sempre que alguém vinha provocar Arno, acabava produzindo traques altíssimos e vexatórios. Aos poucos, as gozações em torno de seu nome cessaram e Arno pôde se enturmar.




Ser corno ou não ser? Eis a minha indagação...


Assim, descobriu Sarah Donna, a garota mais linda e loira do colégio e naturalmente cobiçada pelos caras. Sarah, no entanto, além de linda, era certinha. Podia ser o Gianecchini; fizesse uma grosseria, um palavrãozinho mínimo que fosse, lá se iam as chances do rapazola com ela.

Apaixonado, mesmo sabendo que não era bonitão, Arno tentou aproximar-se dela como amigo.
Entretanto, a garota não ficava muito tempo comprometida. Mais cedo ou mais tarde um namorado ressonava em flatos nas situações mais impróprias, e o relacionamento acabava. Sem que ninguém percebesse, Arno estava sempre por perto, escondido e divertindo-se.

O tempo foi passando, e Sarah, agora amiga e confidente de Arno, vendo a demanda masculina se esvaindo, passou a achá-lo, além de muito educado e atencioso, “Até que bonitinho”. Semanas depois, estavam namorando, e anos mais tarde, ficaram noivos.

Um dia antes do casamento, Arno apareceu de surpresa na casa de Sarah. Estava tenso.

– Sarah, nós sempre fomos honestos um com o outro, mas preciso te contar uma coisa sobre mim antes que a gente case!
– Que foi? Nossa, você está com uma cara...!

Logo que disse isso, ambos escutaram o vagido fino de um pumzinho espremido. Sarah corou na hora.

– Ai! Putz! Desculpa, Arno, eu...
– Sou eu quem tem que pedir desculpas. Preciso te contar um segredo. Desde a infância eu tenho sérios problemas de gases.
– Como assim? Na minha frente você nunca...
– Sempre que fico nervoso, peido demais. Nem adianta tomar só água e fazer dieta vegetariana. Meus pais consultaram os melhores médicos, sem sucesso. Um amigo do meu pai teve pena e me ajudou. Me ensinou os truques de sua profissão e hoje eu tenho uma vida normal.
– Truques da profissão? Ele é o quê? Médico? Instrutor de boas maneiras?
– Não. Ventríloquo.






Essa aí é a Celly Batto, prima da Sarah Donna que jurou que ia casar virgem.

Tá esperando até hoje pelo príncipe encantado...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

UMA TRAGICOMÉrDIA ROMÂNTICA

Rapaz e moça abraçados de lado. Ela, longos cabelos pretos. Com franjinha. Ele, cabelos castanhos e pixains. Sem franjinha. Uma infinidade de retratos presos a um mural de cortiça. Mudam apenas o figurino, as estações do ano e os cenários, mas o tema permanece: um casal sorrindo, fazendo brincadeiras para a câmera, ela de cavalinho nele, ele abraçado atrás dela. Instantâneos de um casal apaixonado.

Pena que a realidade não espelhe mais a doce alegria perpetuada em papel fotográfico. Sozinha em seu quarto, abraçada ao travesseiro encharcado de lágrimas, a jovem Tânia Saginatta castiga os ouvidos da vizinhança com as músicas de fossa mais bregas do planeta.

Por que ele a abandonara? Por que acaba aquilo que se pensa eterno? Por que uma pessoa deixa de amar outra? Se as horas duram mais do que os minutos, por que o ponteiro das horas é menor do que o dos minutos? Perguntas sem resposta.

- Blém, Blóm. - intromete-se a campainha.

A jovem Tânia enxuga o rosto no lençol, ergue-se da cama e cruza a porta do quarto. Desce as escadas sem perceber o escândalo de seus pés sobre os degraus. No andar de baixo, vira a chave, torce a maçaneta, abre a porta.

Suas pestanas quase entram no globo ocular quando arregala os olhos. É ele. O rapaz que a acompanha em todos os retratos do mural.



Essa é a mãe da Tânia. Pra vocês verem como a beleza é de família.

Ela quer dizer algo. Qualquer coisa. É ele, porém, quem fala:

- Eu estava passando pela rua e vi sua casa. Aí comecei a lembrar de quando estávamos juntos... das horas maravilhosas que tivemos... Todos aqueles momentos felizes que compartilhamos... E que nunca mais tive ao lado de nenhuma outra mulher! Fui um idiota, demorei para perceber o quanto você é especial. Esses anos que ficamos separados me mostraram que eu jamais devia tê-la deixado!

Segue-se um curtíssimo silêncio, que a ansiedade de Tânia transformava em uma vida.

- Tânia... Eu não sei viver sem você! Eu te amo!

É tudo o que a moça quer ouvir. Uma única palavra sai de sua boca:

- V-verdade?
- Não. PRIMEIRO DE ABRIL! RÁ, RÁ, RÁ, RÁ, RÁ!

E ele, debochado a mais não poder, gargalha e aponta-lhe o indicador, a outra mão batendo na coxa. Ela sente o lábio superior tremer só do lado esquerdo, como sempre lhe acontecia em instantes de tensão extremada. Dá as costas a seu ex, que prossegue a conversa:

- Cê acha? Por acaso passei aqui, lembrei que era Primeiro de abril... Ah, eu não podia perder essa! Nossa, você devia ter visto a sua cara! Inclusive...

- CK-CHACK! - manifesta-se a espingarda italiana Franchi SPAS 12 que Tânia guardava na parede da sala com tanto carinho. E mesmo percebendo o olhar alucinado da ex-namorada, compreendendo-lhe as intenções, o moço se finge de besta:
- Epa! Que qué isso aí? Não! Abaixa essa coisa!

Não houve resposta. O melhor que ele tem a fazer é pôr instantaneamente em prática sua promessa de voltar a praticar corrida. A rua deserta nunca lhe pareceu tão convidativa.

- Calma, Tânia! É brincadeira, pô!
- BOUMM! CK-CHACK! - retruca a calibre doze, disparando e recarregando. O tiro passa de raspão na orelha do rapaz em disparada.
- Tá vendo? - protesta o ex-namorado, promovido a novo-atleta - Por isso que eu te larguei, você num tem humor! Socorro!

Além de não ter humor, Tânia também não tem pontaria. Mas é persistente e trouxe bastante munição. Qualquer hora ela acerta.


Mas eu não sou linda?????????????

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Mecônio, o Migiênico

Esse é Mecônio. Não é a cara do Adrien Brody????

Conta-se que certa feita Mecônio, mal dando um passo tímido para fora do tualét, deparou com seu amigo Sicraninho, ansioso e perguntando:

– Cê fez cocô ou xixi?
– Xixi.

Crente que não corria perigo, Sicraninho avançou porta adentro. Catorze segundos após, arrastava-se para abandonar o recinto, atrás de si uma fumaça densa e branca.

– Fidiputa! – rosnou Sicraninho, suado, ao amigo – Cê disse que tinha fazido xixi!
– E fiz. – retrucou Mecônio, de bate-e-pronto – Você num perguntou nada sobre peidar...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

QUEBRANDO TODOS OS RECORDES



Esta é a primeira parte da história "Um Vampiro em Apuros". Vou colocar aos pouco, pra não cansar.


Quebrando todos os recordes

Numa coisa todo mundo deve concordar: só existem dois tipos de mãe: as mais e as menos chatas. Alvinho, dezesseis anos, fora agraciado com uma do primeiro tipo, cujo maior prazer consistia em não deixá-lo chegar atrasado às aulas. Destarte, todas as manhãs mamãe escancarava as janelas do quarto do pimpolho teen, permitindo que a luz solar a tudo invadisse e iluminasse. Imersa em dedicação e sutileza de atitudes, a zelosa progenitora nunca entendeu por que seu filhinho acordava de mau humor.

Que vida! Seria tão bom se não precisasse ir à escola! Dormir até meio-dia, sem dar satisfação, sem professor otário nem mãe enchendo o saco! Alvinho não era exigente. Tendo música, games e Internet, já estaria bom demais!

Domingo à noite, saiu para a balada. O lugar, a casa de um conhecido, repleta de garotas, seus amigos se dando bem, menos ele. Um tremor percorreu-lhe o corpo; seus olhos encontraram os de uma moça alta, magra, cabelo escuro curto e roupas de vinil vermelho. Encarava de um modo impossível de evitar. A coragem calibrada pelo álcool, Alvinho seguiu até a dona dos olhos.

Apresentaram-se. Ele, Alvinho. Ela, Fúlvia. Aparentava dois anos mais que ele, e não ligava para a diferença de idades.



As coisas correram naturais: a conversa, os beijos e um comichão esquisito tão logo ela perfurou-lhe a garganta com dois caninos pontiagudos e desproporcionais. Sua consciência ia fugindo quando a garota o largou, rasgou o pulso com uma unha e ofereceu-lhe seu sangue. O instinto do moleque cuidou do resto.


Noite ainda, Fúlvia o acompanhou até em casa. Combinaram de se ver dali a umas doze horas, pois ela tinha muito a ensinar-lhe. Um beijo demorado, e a mulher partiu, misturando-se às sombras.


Uma alegria inexplicável alucinava o garoto. Ergueu os braços, sentia-se livre e poderia jurar que seus pés não tocavam o solo. Deveria estar com mais sono do que imaginava. Entrou no quarto, olhou para a cama e desabou.

Traz um guardanapo que tinha sangue demais nessa macarronada

Segunda-feira, mamãe penetrou o quarto e escancarou as janelas, permitindo que a luz do sol invadisse e a tudo iluminasse.


Na próxima edição do Guinness de Recordes, Alvinho figurará como “aquele que menor tempo permaneceu como vampiro”.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Acaso ou Acidente?


Aquele som que chegava da traseira do automóvel assim que ela brecou no sinal vermelho em nada lembrava as trombadas glamurosas a que se acostumara no cinema, em estéreo, som digital altíssimo, quase ensurdecedor. O ruído que escutara mais parecia um bumbo desafinado.
Belo ou decepcionante, o barulho representava uma batida das feias. Pelo retrovisor, ela percebeu a cara de raiva do motorista do carro de trás. Ela sentia a dor atacando-lhe os músculos, retesados com o susto. Soltou o cinto de segurança e desceu.

– Por que você parou tão de repente? – gritou o motorista, gesticulando uma única mão.
– De repente? Você que veio grudado na minha bunda! – retrucou ela, nervosa.
– E eu ia adivinhar que você ia frear tão em cima?
– Olha só o que você fez! – dizia ela, atenta ao amassado do pára-choque e do porta-malas, os cacos do farol colorindo o asfalto de amarelo e vermelho.
– Você tem seguro? – quis saber ele.
– Não.
– Nem eu.
– E agora? – ela perguntou.
– Agora você paga. A culpa é sua!
– Nada disso! Em acidente de trânsito, quem tá atrás é que leva a culpa, não sabia?
– Você é o quê? Advogada, por acaso?
– Não, mas meu marido é!
– Ótimo, então ele deve ter grana pra pagar a merda que você fez. Porque, se a sua capacidade de trabalhar for como a de dirigir, nem dinheiro pra maquiagem você deve ter!
– Mas olha que grosso! – disse ela, indignada, pousando as mãos na cintura – Agora é que eu não pago, mesmo!
– Você vai pagar esta merda e acabou! – disse ele, furioso e perdigotante.
– Você está gritando comigo só porque eu sou mulher!
– Não quero saber se você é mulher ou homem! Quero saber de arrumar meu carro! Eu dependo dele pra trabalhar!
– Pois que dirigisse melhor!
– Ah, agora pensa que tem razão, dona Maria?
– Olha o respeito, seu estúpido! Vai falar assim com a sua esposa!
– Minha esposa sabe dirigir, não é uma anta que nem você!
– Se ela sabe, você devia aprender com ela!
– Vamos acabar com essa coisa! Vou pegar a sua placa e fazer um boletim de ocorrência!
– Ah, é? Pois eu vou ligar agora mesmo para a polícia! – bradou ela, sacando o celular da bolsa e digitando o número.
– Ai que medo! – disse ele com ironia – Aproveita e pega meu RG também! – continuou, furioso, enquanto arrancava a carteira do bolso e estalava com força o documento na capota do carro dela. Em poucos segundos, a mulher avisou sua localização, pediu urgência e desligou, sorrindo triunfante para o homem, este de braços cruzados, contendo-se para não usar a violência.

Sou um cão policial, dããã...
Foi quando ela olhou para o RG sobre seu carro e leu o nome em voz alta.
– Silvestre Ramos de Arruda Campos.

Seus olhos arregalaram.


– Não é possível. Sissi?

Foi a vez do homem ficar espantado.


– Caramba, Sissi! – continuou ela – É você mesmo?
– Como você sabe o meu apelido? – perguntou ele, assustado.
– Você num tá me reconhecendo?

Foi a vez de ela puxar sua identidade e exibi-la. Silvestre também leu em voz alta:

- Agnes Carneiro Cordeiro.


Seu olhar se perdeu num passado distante. O choque da recordação o fez sorrir e emendar com um palavrão. A mulher sorriu e o abraçou.


– Nós dois estudamos no primário! – afirmou o homem.
– Si! Quanto tempo! Que saudades! Mas nunca que eu ia te reconhecer com esse cavanhaque! E você tá mais magro!
– E você, com esse cabelo chanel preto? Na escola você era ruiva e tinha trancinhas!
– Pois é, você vivia puxando as minhas trancinhas ruivas!
– Puxa vida! Olha, Agnes, nem esquenta com essa batida. Eu pago!
– ‘Magina, Si! Meu marido tem dinheiro! Ele paga e depois eu acerto com ele!
– Que é isso! Eu que preciso aprender a ouvir minha esposa! Ela vive dizendo pra eu tomar cuidado no trânsito!
– Não interessa! Eu insisto, Si!
Os dois recordaram muitas passagens da infância, depois trocaram telefones e combinaram de se ver naquele mesmo fim de semana e apresentar as respectivas famílias.


Quem não entendeu nada foram os policiais, chegando ao local da trombada e se deparando com um homem e uma mulher entretidos numa conversa bastante animada, rindo muito, enquanto um congestionamento de alguns quilômetros formava-se logo atrás do acidente.





Algumas cagadas dão certo... Eu disse algumas